28 fevereiro, 2009

Em Castelo do Queijo..
Ontem fui à praia com Isabella, foi ótimo, caminhamos muito e conversamos mais ainda..achei Isabella meio tristinha, mas tratei de tentar lhe passar um pouco da energia que tenho e do entusiasmo que me é até em excesso. Chego, às vezes, ao ridículo da empolgação. Isabella, ao contrário, me passou boa dose de ponderação e, logo que voltamos, resolvi fazer compras de supermercado, a coisa mais sensata que fiz até agora. Então, tenho casa, comida e empolgação.

...O sistema de transportes..
parece funcionar muito bem..é tudo integrado...faz-se um cartão magnético chamado Andante, escolhe-se as áreas pelas quais quer ter livre acesso e assim pode-se andar ilimitadamente de auto-carro (ônibus), metro (metrô) e bonde elétrico. No meu caso, escolhi duas zonas para transitar durante um mês por € 23. Não há ninguém na entrada dos trasnportes fiscalizando os cartões. Cada um se responsabiliza por validar seu cartão em uma máquina que fica dentro do transporte. Caso esteja andando sem validar seu andante, ou seja, sem registrar na maquinhinha sua viagem, e for pego por um fiscal, toma-se uma multa de cem vezes o valor da passagem, que é €0,85. Portanto: 85 euros.

...O problema das sacolas plásticas...
Outra coisa inteligente por aqui é que não se distribui a deus dará sacolas plásticas em supermercados como meio de publicidade. Cada sacola plástica custa 2 céntimos de euro, o que faz com que as pessoas usem o menor número possível e reutilizem as sacolinhas...Fiquei sabendo disso ontem quando fiz minhas primeiras compras de supemercado. Guardei as sacolinhas, é claro.

...A limpeza das ruas...
não se vê sujeira nas ruas do centro. A não ser bitucas de cigarro que, por sinal, aqui é caríssimo: 3 ou 4 euros uma maço de cigarros e as pessoas fumam muuuito. Sorte a minha que não fumo! Ahh, e além das bitucas, se vê também no chão, cuspidas! É nojento, mas melhor do que lixo..os portugueses tem o hábito de cuspir no chão..imagino que por causa do frio e do cigarro devem ter pigarros..rsrsrs.

...falando em sujeira..
esqueci de comentar sobre o carnaval..
no primeiro momento, achei fantástico! O centro histórico do Porto iluminado à noite com pessoas a passear pelas ruas fantasiadas de tudo o que se puder imaginar. Bruxas, marinheiros, bichos, personagens de desenho (adorei um grupo de pessoas que se fantasiaram de Simpsons...havia o Homer, a Mart, o Bart, a Meg e a Lisa)..e nada de fantasias improvisadas, todas muito bem feitas.
Então, peguei um comboio (trem) com uma turma de brasileiros e fui para o carnaval em Ovar, uma cidade famosa pelo carnaval e pertinho daqui. A mesma coisa do carnaval no Brasil..adolescentes bêbados dentro do trem, cantando refrões de músicas idiotas e gritando nos ouvidos dos outros. Cheguei à conclusão que é melhor eu desistir de carnavais. DETESTO aqui, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.

27 fevereiro, 2009

A Biblioteca da FLUP

Minha nossa...tô nesse computador da biblioteca há um tempão e não tinha olhado pro lado..
Depois de uma porta de vidro tem uma escada circular que atravessa uns cinco andares: é a biblioteca mais alucinante que já vi...esplendorosa....a escada está no centro dela e ao subí-la ou descê-la o que se vê são prateleiras de madeira lindas com os livros expostos da forma mais organizada que já vi e as pessoas confortavelmente instaladas em sofás de couro com seus leptops estudando, lendo, e à frente à vista pro Rio. Meu Deus...eu tô chocada!!!!! Eu poderia viver aqui dentro!!!! E cadê minha máquina fotográfica????

O tempo...as línguas

Ontem me mudei..de novo..não aguento mais gastar dinheiro..euros...com táxi. Já se foram uns 40 e pra que? pra acabar descendo a ladeira da rua onde moro a pé puxando duas malas enormes. Fiz questão de ensinar o caminho para o taxista saber que eu sabia para onde estava e não ficar dando voltinhas comigo e acabei parando na rua que era contramão. Estou colecionando foras em Portugal...todos os taxistas tem um GPS no carro, digitam o nome da rua e ele informa o melhor caminho...deixei de comprar uma bota belíssima por 5 euros porque só tinha número 38, ou seja, o meu na Europa. Retardada! Não posso nem lembrar! Mas enfimmmm..
Desci a rua de casa que praticamente não tem calçada e só cabe um carro fazendo um barulho enorme e chamando a atenção de todo mundo: os cachorros das casas enfiaram as suas cabecinhas nas grades e latiam sem parar, as pessoas saíram às portas pra ver a doida descendo a ladeira com duas malas, um travesseiro, um edredon na mão mais umas duas sacolas (não sei o que houve..no Brasil, cabia tudo dentro da mala). Agora, nem preciso me apresentar pra vizinhança..rsrss. Logo que cheguei na casa, conheci Carlos, mais um brasileiro para o rol dos meus novos amigos..com quem conversei horas na cozinha sem ver o tempo passar..trocamos impresssões parecidíssimas sobre a nova vida. Carlos faz Letras, em Ouro Preto, e acabou de chegar em Portugal também com a mesma finalidade que eu. Coincidentemente, Carlos veio com Maria Emília, a menina de Ouro Preto que conheci no Consulado de Portugal em Belo Horizonte. Vim a saber disso hj, no almoço quando vi Maria Emília com Carlos e pensei: "Gente, eu conheço essa menina!". Já nem penso mais em coincideências. Porto está cheio de brasileiros. Também conheci Vinícius Denardim, de Porto Alegre, trabalhando no café da esquina do hotel onde eu estava. Foi um doce de menino comigo: ofereceu sua casa por uns dias, mas preciso das minhas próprias gavetas...como posso precisar tanto de gavetas? Minhas roupas continuam na mala, mas me senti bem melhor quando ontem coloquei, nas gavetas, meus papéis, no armário, meus cosméticos e, em cima da mesinha de cabeceira, a foto do seu Pedro e da dona Magali. Que saudade! Não posso nem pensar que meus olhos transbordam.
Sinto saudade do clima do Brasil. Aqui, o clima é muito variável: de manhã faz frio, por volta da hora do almoço começa a esquentar e faz calor e como estou a caminhar muito quase tenho um surto com esse tanto de roupa, que deixam sim as pessoas mais bonitas, mas não deixam o corpo, a pele à mostra, a respirar e a tomar sol como no Brasil. Com esse tanto de roupa, as pessoas perdem a sensualidade, não têm tanto despertado o desejo. Então, é um tira e põe sem fim..no fim da tarde a temperatura começa a baixar de novo. Ontem, fui com o Carlos e os brasileiros do apartamento onde eu estava numa festa da Faculdade de Arquitetura. Resultado: gripei! Ôh, fragilidade do capeta! Mas, nada demais..apenas uma dorzinha de cabeça, a voz fanha e uma febrezinha de nada que vem e passa..nada que me impeça de ir à praia Castelo do Queijo hoje com a Isabela. Ainda não fui ver o mar..de perto..porque de onde moro dá pra ver o encontro do Rio Douro com o mar. É uma bela vista..
Como disse, vou à praia com Isabela. Ainda não nos encontramos aqui no Porto. É tão engraçado como os brasileiros se unem aqui. Acabamos vivendo um Brasil em Portugal. É assim que me sinto e discutia com Carlos ontem à noite, quem compartilha os mesmos sentimentos. Até agora, convivi com pernambucanos, gaúchos, mineiros, paulistas.. e esse tanto de sotaque está se misturando na minha cabeça junto com o português de Portugal, mais uma vontade de falar espanhol, e já não sei mais como estou falando... Em meus ouvidos, soam as voz de Talita, Fernando e Josi e então me sinto impulsionada a falar no ritmo dos sotaques nordestinos e gaúchos mas com gírias portuguesas. Não posso continuar falando "falando". Para que me faça entender, tenho que falar "a falar", "a escrever". Não posso continuar a falar um pouquinho: tenho que dizer "um bocadinho", "pronto" ao invés de "certo". E tenho achado o português de Portugal estupendamente engraçado. Aqui se diz: "Chegue esse rabinho pra cá!" para dizer a alguém que se aproxime; cú é uma palavra sem a menor conotação negativa: uma professora de ginástica repete milhões de vezes em uma aula: "Mexam esses cuzinhos!" rsrsrsrsr...Digo ao telefone: Quem fala? e me respondem: "Eu que pergunto" num tom de espanto..engraçadíssimo! Para dizer que me levaria de carro para ver uma casa para alugar, uma senhora me disse: "Então, meto-a no carro!..mais parecem mamas e papas italianos..rsrsrs.

26 fevereiro, 2009

Cá estamos...de Portugal a olhar o Brasil

Uma vez li no livro O povo brasileiro do antropólogo Darci Ribeiro que nós, homens e mulheres do Brasil, somos o resultado muito irreverente de três características que herdamos de nossas matrizes étnicas: a portuguesa, a africana e a indígena.
Segundo o antropólogo, herdamos dos índios que aqui se encontravam e encontram até hoje - mesmo que à míngua - a criatividade que faz de nós um povo capaz de inventar, de inovar e transformar uma pena de pássaro em adorno, um líquido aparentemente sem utilidade em tintura ou mesmo uma simples semente em bijouteria. Do africano, extraimos a força que sobreviveu aos porões dos navios negreiros e construiu uma história de coragem e superação. E, finalmente, dos portugueses, herdamos, entre outras coisas, a ternura cantada nos fados e exportada para terras nunca dantes navegadas.
Pois bem! Cá estamos na "terrinha" a conferir o que de português tem o Brasil e o que de brasileiro tem Portugal. Confesso que, no primeiro momento, temi que esta definição sintética do brasileiro dada por Darci fosse poética demais para um mundo que padece de correrias e estresse. Assim, sem querer generalizar - sei que há tesouros na favela e misérias no Japão - e apenas querendo compartilhar com vocês a impressão que não se desfez em mim desde minha chegada à cidade do Porto, o lusitano parece sim ter em si uma boa dose de lirismo, outro tanto de alegria e muita cordialidade, que não economiza no trato conosco, brasileiros. O bigode não esconde seus dentes e o sorriso é farto como o número de brincadeiras e gentilezas de atendentes de mesa (como chamam os garços por aqui), recepcionistas, taxistas e pessoas em geral. Tal ternura é perceptível também no grande número de idosos nas ruas, nos cafés e restaurantes do Porto que, nada nada, têm seus oitenta anos e põe-se à frente de uma xícara de chá ou café e passam horas sentados, lendo jornal ou simplesmente a olhar a sua volta calmamente - hábito comum também aos jovens que saem de casa em fins de semana à noite para tomar...café!
Então, me pergunto: Será daqui mesmo, dos portugueses, que veio parte desse jeito de ser do brasileiro? Será que somos assim: alegres, irreverentes, ternos e cordiais?
Se sim, se não, não sei dizer ao certo. O que sei é que concordo com Darci Ribeiro que também diz que é preciso inventar o Brasil que queremos; que é preciso escolher e inventar o Brasil e o brasileiro que queremos ser.

24 fevereiro, 2009

Diário de vôo

Depois de tantos dias sem vontade escrever, olho pela janela do avião e vejo esta imensa terra recortada, um céu azul, um mar de nuvens e eu esqueci minha caneta...
Como é bela a terra daqui de cima! Um imenso silêncio exterior dá lugar ao som da minha voz...e eu esqueci de trazer uma caneta...
Lá embaixo, meus amores: pai, mãe, Bruno, Marília, Douglas, Moema, Denise e Cristhian.
Tô me mudando e eles vão comigo..meus companheiros para uma vida. Me divido entre o olhar para frente e o olhar para trás...que dói: sinto minha respiração ofegante, meus olhos umideceram, meu nariz escorrer...e eu não tenho lenço na bolsa...
Tento então desviar e organizar meu pensamento..preciso escrever...alguém deve ter uma caneta no avião. Leio e escrevo e penso como a escrita pode ser este instrumento que emudece a palavra e realiza o pensamento. Silêncio à volta. Ouço meu pensamento e o imortalizo através da escrita.
Segundo L. Febvre, apesar de muda, a escrita centuplica a linguagem, disciplina o pensamento e, ao transcrevê-lo, o organiza. Acho que esta viagem já começa a organizar meu pensamento...
Não existe história que não se funde sobre textos. É ela, a escrita, que permite que estes pensamentos atravessem o espaço e o tempo. É assim que me sinto agora: atravessando o espaço e o tempo.
Como é fascinante rabiscar um tanto de sinais gráficos e ter imortalizado meu pensamento. Acho que vou deixar pra lá esse mundo das relações internacionais (disciplina que contratei na Universidade do Porto) e me emaranhar em alguma outra disciplina que fale sobre... sinais...que de repente aparecem e constroem o sentido das coisas. Acabei de descobrir que, nas linguagens primitivas, os gestos eram muito utilizados e serviram de modelos para os sinais da escrita. Sempre pensei sobre isso: por que as letras são como são? Todo esse imendo esforço para a construçãoo da linguagem é o homem desejando externalizar de qualquer forma o raciocínio...expurgá-lo...plantá-lo.

...Depois do Porto, acho que vou querer escolher a próxima cidade em passarei bons anos da minha vida com o Douglas olhando assim de cima, de um avião. Se gostarmos do aspecto, descemos. Que tal, meu amor???

...O coração da minha mãe e do meu pai deve estar apertado agora...relaxem: vocês souberam criar muito bem os filhos que têm!

...Eu tô chocada com São Paulo vista de cima. É assustadora!!! Seguindo aquele critério de olhar por cima a cidade em que vou morar, não quero morar em São Paulo, nem em Madrid. Ahhh, no Porto.. as gaivotas voando sobre o rio Douro...os cafés...o mar...

...Brasil..estava mesmo cansada de ti. Passar o dia esperando no aeroporto de Guarulhos em pleno sábado de carnaval não foi nada fácil, mas, enfim...embarquei..acompanhada por uma paulista que há um bom tempo mora em Londres e desembarquei em Madrid acompanhada por uma gaúcha que, como eu, vai para o Porto estudar na FLUP - Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Acho que noso destino estava cruzado de qualquer forma. Sentamos ao lado uma da outra no avião por acaso, mas, mesmo que o acaso não adiantasse as coisas, nos conheceríamos no embarque em Madrid, quando os autos-falantes anunciavam: Michele Borges e Josiane Siqueira..última chamada. Que gigantesco o aeroporto de Madrid! Fomos commpanheiras, solidárias e conseguimos atravessar aquele mundaréu sem fim de aeroporto como se faz em maratonas. Agora estou indo morar com esta doce menina, mais um casal de historiadores pernambucanos gente boa absurdo (como se diz em terras mineiras) e duas bacanérrimas brasilienses. Norte, sul, centro inteiro, como diz a música..tudo num apartamento pequeníssimo na cidade mais deslumbrante que já vi na vida. Hummm, acho que fico só por uns dias até descolar algo mais sossegado.

...O desembarque no Porto

Lá estava ela, loira e elegante. Maria da Graças, Daça para os amigos. Me recebeu da melhor forma possível me levando pra almoçar e tomar minha primeira Super Bock e meu primeiro vinho do Porto. Para quem há dois dias atrás nem sabia da existência da figura, até que dei sorte em reservar (meu amorzinho, obrigada!) por acaso um hotel que fica a um quarteirão da casa de Daça, diga-se de passagem, em uma cidade com quase 11 milhões de habitantes. Mas, não me prenderei a contar as coincidências desta viagem...pois que são inúmeras..

...Na faculdade

Reunião com a técnica superior das Relações Internacionais e mais uma cacetada de brasileiros e as histórias de que ganharíamos bicicletas e celulares com ligações gratuitas entre todos os estudantes de mobilidade para promoção da integração eram todas verdadeiras! Excelente recepção, senhora Luísa Capitão. Pra completar, ganhei também uma orientadora para o projeto de pesquisa que enviei junto com minha candidatura e do qual nem me lembrava mais.

...Carnaval no Porto e em Ovar
...depois, porque estou pagando internet e dinheiro não cai do céu, mas também não se leva para o céu!!!!

10 fevereiro, 2009

Roda Viva - Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

03 fevereiro, 2009

Sento pra pensar o que sinto
Sabendo que o que sinto é o que penso
E o que penso muda constantemente
Porque sinto que sendo assim
Saberei o que sinto
Pra saber o que penso
E o que sendo sou
Ou seria se fosse
apenas eu

02 fevereiro, 2009

Um risco

ÀS vezes eu me equivoco
ÁS vezes eu erro

ÀS vezes eu enfio os pés pelas mãos
e pego a contramão

Furo o sinal vermelho
Viro a esquina errada

Vô pra direita, vô pra esquerda
Rodopio e páro.

Então, busco novamente uma direção
que pareça existir
Não por acaso.