26 fevereiro, 2009

Cá estamos...de Portugal a olhar o Brasil

Uma vez li no livro O povo brasileiro do antropólogo Darci Ribeiro que nós, homens e mulheres do Brasil, somos o resultado muito irreverente de três características que herdamos de nossas matrizes étnicas: a portuguesa, a africana e a indígena.
Segundo o antropólogo, herdamos dos índios que aqui se encontravam e encontram até hoje - mesmo que à míngua - a criatividade que faz de nós um povo capaz de inventar, de inovar e transformar uma pena de pássaro em adorno, um líquido aparentemente sem utilidade em tintura ou mesmo uma simples semente em bijouteria. Do africano, extraimos a força que sobreviveu aos porões dos navios negreiros e construiu uma história de coragem e superação. E, finalmente, dos portugueses, herdamos, entre outras coisas, a ternura cantada nos fados e exportada para terras nunca dantes navegadas.
Pois bem! Cá estamos na "terrinha" a conferir o que de português tem o Brasil e o que de brasileiro tem Portugal. Confesso que, no primeiro momento, temi que esta definição sintética do brasileiro dada por Darci fosse poética demais para um mundo que padece de correrias e estresse. Assim, sem querer generalizar - sei que há tesouros na favela e misérias no Japão - e apenas querendo compartilhar com vocês a impressão que não se desfez em mim desde minha chegada à cidade do Porto, o lusitano parece sim ter em si uma boa dose de lirismo, outro tanto de alegria e muita cordialidade, que não economiza no trato conosco, brasileiros. O bigode não esconde seus dentes e o sorriso é farto como o número de brincadeiras e gentilezas de atendentes de mesa (como chamam os garços por aqui), recepcionistas, taxistas e pessoas em geral. Tal ternura é perceptível também no grande número de idosos nas ruas, nos cafés e restaurantes do Porto que, nada nada, têm seus oitenta anos e põe-se à frente de uma xícara de chá ou café e passam horas sentados, lendo jornal ou simplesmente a olhar a sua volta calmamente - hábito comum também aos jovens que saem de casa em fins de semana à noite para tomar...café!
Então, me pergunto: Será daqui mesmo, dos portugueses, que veio parte desse jeito de ser do brasileiro? Será que somos assim: alegres, irreverentes, ternos e cordiais?
Se sim, se não, não sei dizer ao certo. O que sei é que concordo com Darci Ribeiro que também diz que é preciso inventar o Brasil que queremos; que é preciso escolher e inventar o Brasil e o brasileiro que queremos ser.

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