27 fevereiro, 2009

O tempo...as línguas

Ontem me mudei..de novo..não aguento mais gastar dinheiro..euros...com táxi. Já se foram uns 40 e pra que? pra acabar descendo a ladeira da rua onde moro a pé puxando duas malas enormes. Fiz questão de ensinar o caminho para o taxista saber que eu sabia para onde estava e não ficar dando voltinhas comigo e acabei parando na rua que era contramão. Estou colecionando foras em Portugal...todos os taxistas tem um GPS no carro, digitam o nome da rua e ele informa o melhor caminho...deixei de comprar uma bota belíssima por 5 euros porque só tinha número 38, ou seja, o meu na Europa. Retardada! Não posso nem lembrar! Mas enfimmmm..
Desci a rua de casa que praticamente não tem calçada e só cabe um carro fazendo um barulho enorme e chamando a atenção de todo mundo: os cachorros das casas enfiaram as suas cabecinhas nas grades e latiam sem parar, as pessoas saíram às portas pra ver a doida descendo a ladeira com duas malas, um travesseiro, um edredon na mão mais umas duas sacolas (não sei o que houve..no Brasil, cabia tudo dentro da mala). Agora, nem preciso me apresentar pra vizinhança..rsrss. Logo que cheguei na casa, conheci Carlos, mais um brasileiro para o rol dos meus novos amigos..com quem conversei horas na cozinha sem ver o tempo passar..trocamos impresssões parecidíssimas sobre a nova vida. Carlos faz Letras, em Ouro Preto, e acabou de chegar em Portugal também com a mesma finalidade que eu. Coincidentemente, Carlos veio com Maria Emília, a menina de Ouro Preto que conheci no Consulado de Portugal em Belo Horizonte. Vim a saber disso hj, no almoço quando vi Maria Emília com Carlos e pensei: "Gente, eu conheço essa menina!". Já nem penso mais em coincideências. Porto está cheio de brasileiros. Também conheci Vinícius Denardim, de Porto Alegre, trabalhando no café da esquina do hotel onde eu estava. Foi um doce de menino comigo: ofereceu sua casa por uns dias, mas preciso das minhas próprias gavetas...como posso precisar tanto de gavetas? Minhas roupas continuam na mala, mas me senti bem melhor quando ontem coloquei, nas gavetas, meus papéis, no armário, meus cosméticos e, em cima da mesinha de cabeceira, a foto do seu Pedro e da dona Magali. Que saudade! Não posso nem pensar que meus olhos transbordam.
Sinto saudade do clima do Brasil. Aqui, o clima é muito variável: de manhã faz frio, por volta da hora do almoço começa a esquentar e faz calor e como estou a caminhar muito quase tenho um surto com esse tanto de roupa, que deixam sim as pessoas mais bonitas, mas não deixam o corpo, a pele à mostra, a respirar e a tomar sol como no Brasil. Com esse tanto de roupa, as pessoas perdem a sensualidade, não têm tanto despertado o desejo. Então, é um tira e põe sem fim..no fim da tarde a temperatura começa a baixar de novo. Ontem, fui com o Carlos e os brasileiros do apartamento onde eu estava numa festa da Faculdade de Arquitetura. Resultado: gripei! Ôh, fragilidade do capeta! Mas, nada demais..apenas uma dorzinha de cabeça, a voz fanha e uma febrezinha de nada que vem e passa..nada que me impeça de ir à praia Castelo do Queijo hoje com a Isabela. Ainda não fui ver o mar..de perto..porque de onde moro dá pra ver o encontro do Rio Douro com o mar. É uma bela vista..
Como disse, vou à praia com Isabela. Ainda não nos encontramos aqui no Porto. É tão engraçado como os brasileiros se unem aqui. Acabamos vivendo um Brasil em Portugal. É assim que me sinto e discutia com Carlos ontem à noite, quem compartilha os mesmos sentimentos. Até agora, convivi com pernambucanos, gaúchos, mineiros, paulistas.. e esse tanto de sotaque está se misturando na minha cabeça junto com o português de Portugal, mais uma vontade de falar espanhol, e já não sei mais como estou falando... Em meus ouvidos, soam as voz de Talita, Fernando e Josi e então me sinto impulsionada a falar no ritmo dos sotaques nordestinos e gaúchos mas com gírias portuguesas. Não posso continuar falando "falando". Para que me faça entender, tenho que falar "a falar", "a escrever". Não posso continuar a falar um pouquinho: tenho que dizer "um bocadinho", "pronto" ao invés de "certo". E tenho achado o português de Portugal estupendamente engraçado. Aqui se diz: "Chegue esse rabinho pra cá!" para dizer a alguém que se aproxime; cú é uma palavra sem a menor conotação negativa: uma professora de ginástica repete milhões de vezes em uma aula: "Mexam esses cuzinhos!" rsrsrsrsr...Digo ao telefone: Quem fala? e me respondem: "Eu que pergunto" num tom de espanto..engraçadíssimo! Para dizer que me levaria de carro para ver uma casa para alugar, uma senhora me disse: "Então, meto-a no carro!..mais parecem mamas e papas italianos..rsrsrs.

Nenhum comentário:

Postar um comentário